Apresentação no Exército de Salvação
No dia 2 de Março de 2007, todos os elementos do grupo de jovens de
justiça e paz Do Prior Velho tiveram oportunidade de
assistir a uma palestra no Exército de Salvação Nacional,
com o Dr. João de Barros, subordinada predominantemente ao
tema do micro-crédito e micro-finança.
Inicialmente, foi exposto uma power point sobre alguns
aspectos relacionados com a pobreza e situações de carência
social e existencial, e suas respectivas origens, causas e
consequências para as sociedades em geral, e para as
próprias pessoas em dificuldades.
A grande conclusão que retive, mais particularmente, em
relação a todo o enquadramento introdutório que me foi
apresentado foi a expressão: "Um sem-abrigo é um sem-amigo",
que concretiza muito efectivamente tudo aquilo que nos foi
dito.
Seguiu-se então uma exposição mais específica em relação ao
micro-crédito e á micro-finança. Será importante salientar
que estes dois conceitos são diferentes: o micro-crédito
assenta unicamente na cedência de um empréstimo de um
determinado valor monetário a uma dada pessoa. A
micro-finança é mais abrangente, uma vez que, para além do
empréstimo, engloba ainda toda uma cadeia de seguros,
transferências e micro-poupanças.
O micro-crédito existe desde tempos bastante remotos e
Mohamed Yunus, com base em estruturas existentes há alguns
anos, soube desenvolver devidamente este ideal. Esta
iniciativa nasce do desejo de promover uma cultura de
futuro, na qual as diferenças discrepantes entre pobres e
ricos se possam dissolver o mais possível, facto que,
actualmente, ainda se denota muitíssimo acentuado, já que há
mais dinheiro entre os países menos desenvolvidos, do que
nos desenvolvidos, mas devido a uma série de questões menos
lícitas e justas, o seu aproveitamento efectivo para os
habitantes desses locais é quase nulo.
O âmago do micro-crédito tem por iniciativa primeira esta
pirâmide invertida, que relaciona a riqueza dos países com o
seu grau de desenvolvimento.
O início deste projecto, que viria a ter consequências
esmagadoras por todo o mundo, deveu-se ao empréstimo de
Yunus, no valor de 26 euros e 42 mulheres, de modo a que
tentassem obter lucro a partir deste valor e restituir-lhe o
dinheiro. Foi o que aconteceu! Com o tempo, o hábito
desenvolveu-se, e devido a taxas de juro relativamente
elevadas, mas sobre valores muito pequenos (logo, pouco
significativas), grupos de 5 pessoas começaram a formara-se
em grande número, dando origem a uma estrutura organizada.
Actualmente, devido a este facto, 10000 famílias são
retiradas do estatuto de pobreza extrema todos os anos. Há
que referir que a maior parte dos micro-créditos foram
concedidos a mulheres, que se demonstram, isto em análise
geral, mais protectoras e preocupadas com toda a família.
Mohamed Yunus nunca conseguiu persuadir os bancos
tradicionais a cooperarem com esta situação, porque os
pobres não oferecem qualquer garantia de reposição do
dinheiro, para além da sua palavra e promessa de esforço.
Todavia, dado que o processo decorria cada vez com mais
naturalidade, e a exigência devido ao aumento do número de
pessoas interessadas ser maior, Yunus fundou a sua própria
agência bancária específica e exclusiva para mautenção do
micro-crédito e da micro-finança, o (Grameen Bank), no qual
a percentagem de devolução dos valores emprestados é de 99%
(valor que nem nos bancos tradicionais, com todas as suas
garantias, se verifica), sendo que todo o dinheiro
circulante neste banco, para auxílio e empréstimos, é
conveniente do pagamento de outros, portanto, todos os
fundos tem origem efectiva na prática da micro-finança.
Toda esta situação, com uma origem tão simples, devolve a
dignidade a muitas famílias, promovendo, para além de uma
posse monetária mais estável, a cooperação e
responsabilidade entre as diversas pessoas, sobretudo entre
as 5 que têm que juntar-se para desenvolver um projecto e
apresentá-lo, de modo a obterem o empréstimo pretendido, que
trabalham juntos, ficando unidos em situações de carência,
mas de uma posterior bonança.
Seguidamente, foi possível perceber que em Portugal, ainda
que se esteja a tentar implementar estruturas eficientes
promotoras da facilidade do micro-crédito para os mais
necessitados, devido ao contexto diferenciado do nosso país,
em relação ao outros menos desenvolvidos, que envolve
questões monetárias e burocráticas complexas, ainda não um
conceito adequadamente difundido entre todos.
A situação verificada é de que nenhuma associação pode doar
dinheiro com vista a este objectivo, se não tiver como
colaborador patrocinador uma estrutura bancária efectiva,
caso contrário é ilegal. Existem, no nosso país,
actualmente, 4 agências de micro-finança, ás quais as
pessoas poderão recorrer, expondo um projecto, que será
analisado e posteriormente aprovado, e então comparticipado,
ou então recusado. Ainda assim, devido a questões sociais,
que acentam numa mentalidade de reduzida confiança,
cooperação, autonomia e iniciativa, o processo é muito
gradual, agravando-se com as legalidades e com o facto de,
em países como o nosso, serem necessárias quantias mais
avultadas de dinheiro para concretização dos mais
rudimentares ideais. Mais gravoso que isto, é ainda o facto
de o micro-crédito ser uma via de promoção da produtividade,
opondo-se a gastos fúteis. Todavia, em sociedades ditas
desenvolvidas, o consumismo é demasiado inebriante para
deixar promover de uma forma saudável e totalmente eficiente
projectos deste tipo.
Concluímos esta breve conferência com a noção de que todos
estes aspectos, relacionados com o efectivo combate á
pobreza e ás grandes diferenças constitui um grande desafio,
todavia é importante tentar, porque das simplicidades surgem
as verdadeiras mudanças.
O que mais me agradou, e partilhei a minha opinião com
alguns outros elementos do JJPV, foi o facto de o Dr. João
de Barros ter falado de todos estes aspectos, de cariz
monetário, económico-financeiro, situações muito concretas,
mas faz sempre recair todas as suas conclusões na Bíblia,
defendendo que a prática de todos este projectos, são apenas
uma concretização efectiva dos princípios indicados na
palavra de Deus, o que foi muito interessante de observar, e
muito enriquecedor para todos os presentes.
S.M.
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